15 agosto, 2016

KROPOTKINE, Pedro - Á GENTE NOVA. Versão de Affonso-Lopes Vieira. Lisboa, Livraria Editora: Viuva Tavares Cardoso, 1904. In-8.º (19cm) de 31, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Exortação à juventude do russo Piotr Kropotkin - célebre ideólogo do movimento anarquista mundial -, em versão traduzida por Afonso Lopes Vieira, ilustrativo de um aspecto menos conhecido da vida do poeta português.
A tradução do folheto de Kropotkine, cujas cópias subsistentes o autor tentou posteriormente recolher, é legitimada algo parodicamente: «Não tenho que me envergonhar. De resto, essa brochura explica-se ainda por uma paixoneta que tive pela sobrinha de Kropotkine que conheci em Paris. Não me arrastou ela até Londres?».
"É á gente nova que eu hoje quero falar.
Que os velhos, - os velhos de coração e de espirito, - ponham de parte, pois, esta brochura, para não fatigarem inutilmente os olhos com uma leitura que nada lhes dirá.
Supponho que vos aproximaes dos dezoito ou vinte annos; que acabastes agora a vossa aprendizagem ou os vossos estudos; que ides entrar na vida. Tendes, creio eu, o espirito desembaraçado das superstições que procuraram incutir-vos; não temeis o diabo e não ides ouvir curas e pastores. Sobretudo, não sois janotas, tristes productos de uma sociedade moribunda, que passeiam nas ruas as suas calças á moda e as suas faces de macacos, e que nesta idade não teem já senão appetites de gozo, custe o que custar...; acredito, pelo contrario, que tendes o coração muito no seu logar, e eis porque vos falo.
Uma pergunta, sei-o bem, a vós proprios fazeis:
- Que vou eu ser?"
(excerto do Cap. I)
MEDINA, João - AFONSO LOPES VIEIRA : anarquista. Introdução e notas de... Lisboa, Edições António Ramos, 1980. In-8.º (21cm) de 97, [3] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Estudo de João Medina sobre a faceta anarquista de Afonso Lopes Vieira. Ilustrado com um retrato do poeta.
"A evolução estético-ideológica de Afonso Lopes Vieira, a sua marcada inflexão conservadora, embora inconformista e sempre anti-salazarista, tendem a fazer esquecer a especial atmosfera um tanto nihilista, para não dizer libertária, que rodeia as suas primeiras produções literárias, nomeadamente um estranho livro invulgar que publicou em 1904, a novela «Marques». Colega e amigo do anarquista e bombista Alberto Costa, o Pad Zé coimbrão, com ligações de amizade e até profissionais com o tipógrafo e revisor anarquista Alexandre Vieira, tradutor de Kropotkine, o autor de Náufrago deixou-se fortemente impregnar por uma especial atmosfera finissecular composta de nihilismo, toslstoísmo, acracia e certas ideias eslavas muito em voga, que parece estar na base do seu romancezinho de 1904. Empenhado posteriormente em valores de casticismo e de «reaportuguesamento» anti-republicanos e, em geral, antidemocráticos, sequaz moderado das hostes do Pelicano, que ele mesmo, num banquete de homenagem a Sardinha, definira como «antiquários fanáticos», Lopes vieira deixa transparecer na sua obra de 1904, escrita quando tem ainda apenas vinte e sete anos e publicada no mesmo ano em que traduz Kropotkine, um ideário que só muito dificilmente se imagina conjugável com o do poeta e critíco que se empenhava em restituir à língua portuguesa o Romance de Amadis, dos Lobeiras, e a Diana de Jorge de Montemor, ao mesmo tempo que colaborava na revista Lusitânia e militava com crescente ardor contra a República, a ponto de se ver prisioneiro por algumas horas no Governo Civil, em 1921, por via dum poema Ao Soldado Desconhecido, de intenções claramente hostis à atitude política que ditara a nossa entrada na guerra de 14-18 ao lado das nações aliadas."
(excerto do Cap. II, A tentação anarquista)
Matérias:
I - Afonso Lopes Vieira anarquista: 1 - Estreia literária. 2 - A tentação anarquista. 3 - A novela eslava «MARQUES». 4 - Humilhados e ofendidos. Notas. II - Antologia: Da novela «MARQUES»: 1 - O nascimento de «Marques». 2 - O lusco-fusco lisboeta. 3 - A cidade do terramoto. 4 - Os sonhos do corcunda. 5 - Os varredores. 6 - Deus e os humilhados. 7 - O sonho de Marcos. 8 - Conto de Natal. Do livro de poemas «AR LIVRE»: 9 - À Cruz. Do «CONTO DE NATAL»: 10 - Um Pobre fala a Jesus.
Exemplares brochados em bom estado de conservação.
Invulgar conjunto.
Indisponível

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