24 maio, 2017

ZOLÁ, Emilio - OS ROUGON-MACQUART E A CÔRTE DE NAPOLEÃO III. Historia natural e social d'uma familia no tempo do Segundo Imperio. Por... Versão de F. M. Gomes de Sousa. Lisboa, Empreza Litteraria de Lisboa, [188-]. 2 vols In-8.º de 240 p. e 256 p. ; E. (num único tomo)
1.ª edição portuguesa.
«Os Rougon-Macquart» é o título colectivo dado a um ciclo de vinte romances escritos por Zola com o sub título: História natural e social de uma família no tempo do Segundo Império. Nesta saga, Zola acompanha as vidas dos membros dos ramos titulares de uma família ficcional que vive durante o segundo império francês (1852-1870) naquela que é considerada uma das peças literárias mais conseguidas do naturalismo francês, movimento em voga na época. Numa carta ao seu editor, Zola declarou os seus objetivos para os Rougon-Macquart: "1.° Estudar numa família as questões do sangue e dos ambientes [...]; 2.° Estudar todo o Segundo Império, do golpe de estado bonapartista até hoje." Desde sempre, o seu primeiro objetivo era mostrar como a hereditariedade pode afectar a vida dos descendentes; Zola começou a trabalhar nesta “família” desenhando a árvore genealógica dos Rougon-Macquart. Embora tenha sido modificada muitas vezes ao longo dos anos, incluindo alguns novos membros e fazendo desaparecer outros, a árvore original mostra como Zola planeou todo o ciclo antes de escrever o primeiro livro.

"O presidente estava ainda de pé, a sua entrada na sala produzira um ligeiro tumulto. Sentou-se e disse negligentemente a meia voz:
- Está aberta a sessão.
Depois classificou os projectos de lei collocados diante de si na secretária.
Do lado esquerdo, um secretario, miope, com os papeis chegados ao nariz, lia a acta da sessão antecedente, mas isto n'm balbuciar rapido, que vedava a qualquer dos deputados ouvil-o. Com o sussurro da sala esta leitura apenas chegava aos ouvidos dos continuos, cuja seriedade e imponencia contrastava com a semcerimonia dos membros da camara.
Não estavam presentes cem deputados. Uns recostavam-se indolentemente nas bancadas cobertas de veludo carmesim, e, nos seus olhares vagos, conhecia-se que estavam dormitando; outros inclinados sobre as secretárias, como que constrangidos por esta massada d'uma sessão publica, rufavam com a ponta dos dedos sobre as tampas de acajú. Pela abertura envidraçada que descrevia no espaço uma meia lua pardacenta, entrava a luz baça das tardes de maio, que reflectindo perpendicular, alumiava regularmente a pomposa severidade da sala. A claridade reflectindo na larga faxa carmesim das bancadas, produzia um espelhado sombrio amtisado de uns reverbéros côr de rosa nos angulos dos bancos vasios; por traz da presidencia, a mudez das estatuas, o alvejar das esculpturas, desenhava alvissimas paredes.
Na terceira fila dos bancos á direita ficara de pé, um deputado: tinha aspecto preoccupado, e de vez em quando levava a mão ás barbas grisalhas que esfregava rudemente. Passou-lhe ao pé um continuo, ao qual dirigiu a meia voz certa pergunta.
Este respondeu:
- Não, sr. Kahn; o sr. presidente do Conselho d'estado ainda não veio.
Então o sr. Kahn sentou-se, e voltando-se de subito para o collega que estava á esquerda, perguntou:
- Olha cá, Béjuin, viste esta manhã Rougon?"
(excerto do Cap. I, Eugene Rougon)
Émile Zola (1840-1902). “Romancista, crítico e ativista político, Zola é considerado um dos escritores mais importantes do século XIX. Ficou conhecido pelas suas teorias acerca do Naturalismo. Nasceu em Paris a 2 de abril de 1840 e morreu nesta cidade a 28 de setembro de 1902. Passou a infância e juventude em Aix-en-Provence, no sul de França, quando o pai, um engenheiro civil de descendência italiana, esteve envolvido na construção do sistema municipal de água. O pai morreu em 1847 e Zola voltou para Paris com a mãe para fazer o liceu. Com a entrada na Hachette, Zola mergulhou no mundo da literatura. Conheceu um grande número de escritores e jornalistas. Leu Taine, Stendhal, Balzac, Flaubert. Nesta altura publicou os primeiros contos e artigos e abandonou a sua vocação de poeta para se tornar romancista. Escreveu o seu primeiro romance, La Confession de Claude , uma história autobiográfica inspirada numa antiga e infeliz experiência passional, publicada em 1865. Daqui para a frente vive ao correr da pena, quer como romancista, quer como jornalista. Zola publica sucessivamente Le Voeu d'une Morte (1866) e Thérèse Raquin (1867), um macabro conto acerca de um assassínio, mas que significou a entrada na estética naturalista. La Fortune des Rougon, o primeiro romance em série começou a ser escrito em 1870, foi depois interrompido devido à guerra franco-germânica e só foi publicado no final de 1871. Na década de 1860/70 defendeu a arte de Cézanne, Manet e os impressionistas Claude Monet, Edgar Degas e Auguste Renoir nos artigos que publicava em jornais. A composição da série Les Rougons-Macquart vai ocupar-lhe quase um quarto de século, de 1871 a 1893."
(fonte: infopedia.pt)
Encadernação simples em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura fontais.
Exemplar em bom estado de conservação. Capas algo oxidadas. Capa do 2.º vol. apresenta corte (sem perda de papel).
Raro.
15€

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